Muito aclamada, a sua primeira colecção surgiu na capa da Vogue portuguesa e valeu-lhe o segundo lugar nos International Design Awards. Agora, Cristina Real apresenta "Details", uma colecção que explora o cruzamento de ideias entre o mundo da moda e da arquitectura.
Esta é a segunda colecção que apresentas na
plataforma Sangue Novo. Que relação existe entre as duas colecções?
Há uma linha
de continuidade entre elas, quase como se a anterior tivesse sido um esboço e
esta seja mais polida e mais detalhada. Enquanto que a outra colecção tinha
materiais muito rijos, esta colecção transmite uma ideia de leveza, embora
haja, tal como na anterior colecção, o uso de peles, por exemplo. Existiu uma
transição da anterior para esta, para outra sensibilidade em termos de
materiais.
Qual foi o ponto de partida para esta
colecção?
Esta
colecção foi inspirada no trabalho de um arquitecto japonês, o Kengo Kuma, mais
precisamente na sua linha de raciocínio e nas plantas arquitectónicas. Para
esta colecção, eu não queria fazer a minha pesquisa na internet, por isso preferi
voltar às origens, aos livros. Quando encontrei, por acaso, um livro sobre o
trabalho dele, achei interessante a maneira como pensava e a forma como
trabalha os materiais. Ele é capaz de utilizar pedra ou maneira e transmitir
uma sensação de leveza e foi isso que eu tentei transmitir para a minha
colecção.
De que forma é que trabalhaste essa ideia?
Usei
materiais duros, como a pele ou o vinil, e tentei dar-lhes uma sensação de
leveza. Depois, em termos de cor, a referência é uma obra específica de Kengo
Kuma, a casa Water/Glass, feita em vidro, com água no exterior. Então decidi
usar a ideia deste contraste e dos reflexos, no momento em que está a
escurecer, mas em que ainda resta uma luz. Daí o preto e as várias tonalidades
de azul, que é a cor que domina a colecção.
Por que é que esta colecção se chama
“Details”?
Porque foi por aí que surgiu a colecção. Antes de pensar nas peças,
pensei nos detalhes. À medida que ia explorando o livro sobre o trabalho de
Kengo Kuma, ia encontrando esboços e percebi que alguns daqueles traços fariam
sentido no vestuário. Por exemplo, eu sinto que se não tivesse incluído o
detalhes das missangas em algumas peças, esta colecção não estaria completa só
com os outros materiais. Às vezes, há uma coisa mínima que faz toda a
diferença.
Tu apresentaste a tua primeira colecção
anterior em Março e as peças têm aparecido em muitos editoriais. Um dos mais
relevantes foi o da Vogue portuguesa, onde um casaco desenhado por ti surgiu na
capa. Isto aumenta a pressão para manteres esse nível?
Estaria a
mentir se dissesse que não aumenta a pressão, mas é um ponto de partida, não
significa que já alcancei tudo. Ter uma peça na capa da Vogue é um
reconhecimento e dá-me força para continuar a trabalhar. A primeira colecção é
uma incerteza e causa um misto de emoções porque não sabemos o que vai
acontecer, nem o que passa pela cabeça das pessoas... Conseguir uma capa é uma
forma de fazer com que eu não desista.
Em termos de futuro, o que imaginas para a
marca?
Hoje em dia,
é muito complicado traçar um plano. O único futuro em que penso é até ao dia
10, até ao desfile. A partir daí logo se vê o que acontece e que oportunidades
podem aparecer. As coisas são muito incertas...
O teu objectivo passa por continuar a
desenvolver a tua marca e a apresentar colecções?
Eu queria
dizer muito que sim. Qualquer pessoa quereria dizer que sim... Só que nós não
sabemos. Eu acho que é um erro tremendo nós dizermos que sim logo porque é
muito complicado... Não basta querer. Nem sequer é pela reacção, pelo facto de
as pessoas talvez não gostarem da colecção. Tem mesmo a ver com a nossa
situação, com a situação do nosso país, com a falta de apoios... Tudo isso faz
com que eu não consiga dizer “sim, vou dar continuidade”.
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Her much acclaimed first collection was featured in the cover of Vogue Portugal and won the second place on the International Design Awards. Now, Cristina Real will present "Details", a collection about the intersection of fashion and architecture.
This is the second collection you will present at Sangue Novo. What’s
the relationship between this and the previous collection?
There’s some continuity. It’s almost
as if the first had been a sketch and this one was more polished and more
detailed. In the previous collection, I used a lot of hard materials, such as
leather, which I also used in this one, but now I think they feel lighter and
softer. There’s a transition to another sensibility regarding materials.
What was the starting point of this collection?
This collection was inspired by
Kengo Kuma’s work, his line of thought and his architectural plans. For this
collection, I didn’t want to use a computer or the internet; I wanted to go
back to books. Then, by chance, I found this book about Kengo Kuma’s work and
his line of thought and the way he would use some materials was very
interesting. He uses stone and wood in a way that is very light, and that’s
what I tried to do in this collection.
How did you do that?
I used hard materials, such as
leather and vinyl, and aimed for this feeling of lightness. Regarding the color
palette, my reference was the Water/Glass house, designed by Kengo Kuma.
Because this glass house is surrounded by water, it feels like it is floating.
Then, I decided to play with this idea of contrasts and reflections, especially
when it’s almost dark. That’s why I used black and various shades of blue,
which is the dominant color.
Why did you call this collection “Details”?
Because that’s where the collection
began. Before thinking about the pieces, I thought about the details. As I was
going through the book, I found sketches and realized some of those details
would make sense in items of clothing. For instance, I feel that my collection
would not be complete if I hadn’t used beads. Sometimes, the slightest thing
can make a huge difference.
You presented your first collection back in March and it has been
featured in many editorials. One of your jackets was even worn by Maria Borges
on the cover of the Portuguese Vogue. Do you feel any pressure because of that?
I would be lying if I said that it
doesn’t increase the pressure. However, I see it more as a starting point than
as my ultimate achievement. Being featured in the cover of Vogue is a validation
and gives me the strength to move forward. The first collection is always uncertain
and there’s a mix of emotions because we never know what people will think.
Being on the cover of Vogue gives me the strength not to give up.
What do you plan for the future of the brand?
Nowadays, it is very difficult to
make plans. I only think as far as the day of the show. Then, I’ll see what
happens and what opportunities may came up. Everything is so uncertain…
Would you live to move forward with the brand and present your own
collections?
I really want to say yes to that
question… Anyone would like to say yes… But we just don’t know. The answer
cannot be a straightforward “yes” because it is very complicated. It is not
just a matter of “do I want it?” or whether people will like it or not. It has
to do with our situation, the situation of our country, with the lack of any
kind of support. I just can’t say “yes, I will move forward”.
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