Wednesday, March 05, 2014

ModaLisboa | Sangue Novo: Olga Noronha

Olga Noronha nasceu no Porto, em 1990. Em 2007 mudou-se para Londres e em 2011 licenciou-se em Design de Joalharia. O seu percurso académico, dedicado à joalharia medicamente prescrita, levou-a a participar na primeira edição do Sangue Novo. No regresso à plataforma, Olga Noronha apresenta a colecção “Corpus in Claustrum”.

Qual é a primeira referência que tens em termos de moda?
As primeiras referências em termos daquilo a que poderemos chamar acessórios de moda vêm de muito pequena. Logo aos 11 anos comecei a fazer joalharia, mas nunca fiz peças de pequena escala. Em termos de moda, foi quando entrei para a Central Saint Martins, que impulsionava uma série de parcerias com casas de moda e marcas de alta joalharia.

Olhando para tua primeira participação na ModaLisboa, qual é o balanço que fazes?
Eu quando desenvolvi a colecção das próteses, que apresentei na edição anterior, foi no contexto do meu doutoramento em joalharia medicamente prescrita. O meu percurso é académico, a moda entrou como algo complementar. A minha intenção não era de forma alguma chegar ao mundo da moda... Era fazer um statement de estética, juntar o prazer ao “desprazer”, a doença à cura. As revistas começaram a achar que a dicotomia entre o saudável e o doente era capaz de ser interessante e foi assim que as peças começaram a surgir em editoriais. As próteses foram desviadas da sua primeira intenção para algo diferente. Não era a minha intenção, mas adaptei-me ao convite que a ModaLiboa me fez e penso que correu bem...

A apresentação das tuas peças na edição anterior causou reacções polarizadas...
Sim, criou reacções polarizadas, mas era aquilo que eu queria. É isso que eu quero com o meu trabalho – ou gostam ou não gostam, não há meio termo. Há uma reacção... Se pensarem cinco segundos naquilo que eu fiz, eu já tenho o meu dia ganho.

Qual é o conceito em que esta colecção se baseia?
Esta colecção não tem nada a ver com a joalharia medicamente prescrita, embora se mantenha a ligação à medicina. A colecção baseia-se nas teorias de psicanálise e psiquiatria, de enclausuramento e de uma síndrome quase depressiva. Tudo metafórico, claro. Há uma dicotomia plena, em que as manequins estão vestidas de freiras, mas são freiras em vermelho sangue, que usam saltos altos de doze centímetros. É quase erótico... Não erótico in your face...

Essa é uma imagem muito forte para o desfile...
Eu quero que todo o ambiente do local e toda a música, baseada em respiração, trovões e ritmos cardíacos, impulsionem uma sensação de intriga em relação ao que se passa por baixo daqueles hábitos de freira. É quase uma visão sexual em relação às “gazelas” que estão a desfilar envoltas numa estrutura que não lhes permite tocar em praticamente nada à volta...


Dá-te gozo essa provocação?
Dá-me muito gozo... É o que mais gozo me dá! Primeiro, porque eu geralmente faço uma peça para ela ser enquadrada num ambiente específico e não num ambiente qualquer. Cada coisa que eu faço tem um conceito por trás e uma vontade de transmitir algo específico. No fundo, o que eu quero é criar uma reacção extremamente forte, seja ela boa ou má, mas algo de que as pessoas não se esqueçam.

Isso é intencional?
É completamente intencional. Por isso é que eu tento recriar um ambiente um bocado teatral. Neste caso, as freiras têm uma razão de ser. São freiras semi-eróticas, encarceradas em grandes estruturas de aço, que fazem com que a zona de conforto seja muito maior e com que a aproximação do público seja quase inexistente. Existe uma barreira, existe um obstáculo.

Estas estruturas de metal, esta clausura, são de alguma forma uma vontade de olhar para dentro, para a relação com o próprio corpo?
Há uma coerência entre as minhas duas últimas colecções e grande parte do trabalho que eu gosto de fazer que é a restrição de movimento, alterar a forma como nós nos posicionamos na sociedade. Não a forma como comunicamos, mas a forma como nos movemos, o espaço de que necessitamos e o espaço que os outros têm para se mover à nossa volta.

Quais são as tuas perspectivas para o futuro?
A minha previsão é, dentro de três anos, abrir uma empresa de alta joalharia. Penso que, ao longo destes anos, fui desenvolvendo tantas ideias que é uma pena não as utilizar.

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Olga Noronha was born in 1990, in Porto. In 2007, she moved to London and in 2011 she graduated in Jewellery Design from Central Saint Martins. Dedicated to medically prescribed jewellery, her academic career brought her to the first edition of Sangue Novo. In this second edition, Olga Noronha will present “Corpus in Claustrum”.

What’s your first reference in fashion?
My first references related to what we may call fashion accessories started at a young age. When I was 11, I started creating jewellery. I never created small pieces, though. As far as fashion is concerned, the relation started at Central Saint Martins, which promoted partnerships with both high jewellery and fashion brands.

Looking back to the previous edition, how do you see it?
When I developed the prosthesis collection that I presented in the last edition, it was related with my PhD and my investigation on medically prescribed jewellery. It wasn’t my intention to bring it into the fashion world… The intention was to make an aesthetic statement, to mix pleasure with “displeasure”, disease with cure. Magazines found this dichotomy between “healthy” and “sick” interesting and that’s how my pieces started to be featured in editorials. Fashion wasn’t in my plans, but I adapted to the ModaLisboa invitation and I think the result was good…

That last collection caused some opposite reactions…
Yes, it did. But that’s exactly what I wanted. That’s what I want my work to achieve. People will either like it or not like it, there’s no in-between. If people think about what I presented for 5 seconds, my goal is achieved.

What’s the concept of this collection?
This collection has nothing to do with medically prescribed jewellery, even though there’s still a relation with medicine. The collection is based on psychoanalytic and psychiatric theories, on the idea of enclosure and an almost depressive syndrome.  Metaphorically speaking, obviously. There’s a total dichotomy, as the models will be dressed as nuns. Nuns in red, wearing 12 centimeters stilettos. It’s almost erotic, but not an "in your face" kind of erotic …

That’s a very strong image…
I want the environment and the music, based on respiration, thunderclaps and cardiac rhythms, to make people wonder about what’s below those garments. It’s almost a sexual vision towards those “gazelles” walking down the runway surrounded by a structure that doesn’t allow the models to touch almost anything around…

Do you like to create that kind of provocation?
I really do! That’s what I like the most! First of all, because I create pieces to be shown in a specific context, not in a random way. Each thing I create has a concept behind it and I want to transmit something specific with it. Basically, what I want is to create an extremely strong reaction, whether it’s a good or a bad one. I don’t want people to forget it.

Is that on purpose?
Completely! That’s why I try to create a theatrical ambiance. There’s a reason why I chose to have the “nuns”. These semi-erotic nuns are enclosed in big steel structures, which increases their comfort zone and make any physical interaction from the audience almost impossible. There’s a barrier, an obstacle.

These steel sculptures and this enclosure, are they somehow a reflection about the relation with our own body?
The restriction of movements and changing the way we position ourselves in the society is something common in these two last collections and in most of my work. It’s not really about the way we communicate, but more about the way we move, the space we need and the space others have to move around us.

What do you expect for the future?
My expectation is to create my own high jewellery brand within three years. There are so many sketches and so many ideas that it would be a waste not to use them.

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