Olga Noronha nasceu no Porto, em 1990. Em
2007 mudou-se para Londres e em 2011 licenciou-se em Design de Joalharia. O seu
percurso académico, dedicado à joalharia medicamente prescrita, levou-a a
participar na primeira edição do Sangue Novo. No regresso à plataforma, Olga
Noronha apresenta a colecção “Corpus in Claustrum”.
Qual é a primeira referência que tens em
termos de moda?
As primeiras
referências em termos daquilo a que poderemos chamar acessórios de moda vêm de
muito pequena. Logo aos 11 anos comecei a fazer joalharia, mas nunca fiz peças
de pequena escala. Em termos de moda, foi quando entrei para a Central Saint
Martins, que impulsionava uma série de parcerias com casas de moda e marcas de
alta joalharia.
Olhando para tua primeira participação na
ModaLisboa, qual é o balanço que fazes?
Eu quando
desenvolvi a colecção das próteses, que apresentei na edição anterior, foi no
contexto do meu doutoramento em joalharia medicamente prescrita. O meu percurso
é académico, a moda entrou como algo complementar. A minha intenção não era de
forma alguma chegar ao mundo da moda... Era fazer um statement de estética, juntar o prazer ao “desprazer”, a doença à
cura. As revistas começaram a achar que a dicotomia entre o saudável e o doente
era capaz de ser interessante e foi assim que as peças começaram a surgir em
editoriais. As próteses foram desviadas da sua primeira intenção para algo
diferente. Não era a minha intenção, mas adaptei-me ao convite que a ModaLiboa
me fez e penso que correu bem...
A apresentação das tuas peças na edição
anterior causou reacções polarizadas...
Sim, criou
reacções polarizadas, mas era aquilo que eu queria. É isso que eu quero com o
meu trabalho – ou gostam ou não gostam, não há meio termo. Há uma reacção... Se
pensarem cinco segundos naquilo que eu fiz, eu já tenho o meu dia ganho.
Qual é o conceito em que esta colecção se
baseia?
Esta
colecção não tem nada a ver com a joalharia medicamente prescrita, embora se
mantenha a ligação à medicina. A colecção baseia-se nas teorias de psicanálise
e psiquiatria, de enclausuramento e de uma síndrome quase depressiva. Tudo
metafórico, claro. Há uma dicotomia plena, em que as manequins estão vestidas
de freiras, mas são freiras em vermelho sangue, que usam saltos altos de doze
centímetros. É quase erótico... Não erótico in
your face...
Essa é uma imagem muito forte para o
desfile...
Eu quero que
todo o ambiente do local e toda a música, baseada em respiração, trovões e
ritmos cardíacos, impulsionem uma sensação de intriga em relação ao que se passa
por baixo daqueles hábitos de freira. É quase uma visão sexual em relação às
“gazelas” que estão a desfilar envoltas numa estrutura que não lhes permite
tocar em praticamente nada à volta...
Dá-te gozo essa provocação?
Dá-me muito
gozo... É o que mais gozo me dá! Primeiro, porque eu geralmente faço uma peça
para ela ser enquadrada num ambiente específico e não num ambiente qualquer.
Cada coisa que eu faço tem um conceito por trás e uma vontade de transmitir
algo específico. No fundo, o que eu quero é criar uma reacção extremamente
forte, seja ela boa ou má, mas algo de que as pessoas não se esqueçam.
Isso é intencional?
É
completamente intencional. Por isso é que eu tento recriar um ambiente um
bocado teatral. Neste caso, as freiras têm uma razão de ser. São freiras
semi-eróticas, encarceradas em grandes estruturas de aço, que fazem com que a
zona de conforto seja muito maior e com que a aproximação do público seja quase
inexistente. Existe uma barreira, existe um obstáculo.
Estas estruturas de metal, esta clausura,
são de alguma forma uma vontade de olhar para dentro, para a relação com o
próprio corpo?
Há uma
coerência entre as minhas duas últimas colecções e grande parte do trabalho que
eu gosto de fazer que é a restrição de movimento, alterar a forma como nós nos
posicionamos na sociedade. Não a forma como comunicamos, mas a forma como nos
movemos, o espaço de que necessitamos e o espaço que os outros têm para se
mover à nossa volta.
Quais são as tuas perspectivas para o
futuro?
A minha
previsão é, dentro de três anos, abrir uma empresa de alta joalharia. Penso
que, ao longo destes anos, fui desenvolvendo tantas ideias que é uma pena não
as utilizar.
--
Olga Noronha was born in 1990, in Porto. In 2007, she moved to London
and in 2011 she graduated in Jewellery Design from Central Saint Martins.
Dedicated to medically prescribed jewellery, her academic career brought her to
the first edition of Sangue Novo. In
this second edition, Olga Noronha will present “Corpus in Claustrum”.
What’s your first reference in fashion?
My first references related to what
we may call fashion accessories started at a young age. When I was 11, I
started creating jewellery. I never created small pieces, though. As far as
fashion is concerned, the relation started at Central Saint Martins, which
promoted partnerships with both high jewellery and fashion brands.
Looking back to the previous edition, how do you see it?
When I developed the prosthesis
collection that I presented in the last edition, it was related with my PhD and
my investigation on medically prescribed jewellery. It wasn’t my intention to bring
it into the fashion world… The intention was to make an aesthetic statement, to
mix pleasure with “displeasure”, disease with cure. Magazines found this
dichotomy between “healthy” and “sick” interesting and that’s how my pieces
started to be featured in editorials. Fashion wasn’t in my plans, but I adapted
to the ModaLisboa invitation and I think the result was good…
That last collection caused some opposite reactions…
Yes, it did. But that’s exactly what
I wanted. That’s what I want my work to achieve. People will either like it or
not like it, there’s no in-between. If people think about what I presented for
5 seconds, my goal is achieved.
What’s the concept of this collection?
This collection has nothing to do
with medically prescribed jewellery, even though there’s still a relation with
medicine. The collection is based on psychoanalytic and psychiatric theories,
on the idea of enclosure and an almost depressive syndrome. Metaphorically speaking, obviously.
There’s a total dichotomy, as the models will be dressed as nuns. Nuns in red,
wearing 12 centimeters stilettos.
It’s almost erotic, but not an "in your face" kind of erotic …
That’s a very strong image…
I want the environment and the
music, based on respiration, thunderclaps and cardiac rhythms, to make people
wonder about what’s below those garments. It’s almost a sexual vision towards
those “gazelles” walking down the runway surrounded by a structure that doesn’t
allow the models to touch almost anything around…
Do you like to create that kind of provocation?
I really do! That’s what I like the
most! First of all, because I create pieces to be shown in a specific context,
not in a random way. Each thing I create has a concept behind it and I want to
transmit something specific with it. Basically, what I want is to create an
extremely strong reaction, whether it’s a good or a bad one. I don’t want
people to forget it.
Is that on purpose?
Completely! That’s why I try to
create a theatrical ambiance. There’s a reason why I chose to have the “nuns”.
These semi-erotic nuns are enclosed in big steel structures, which increases
their comfort zone and make any physical interaction from the audience almost
impossible. There’s a barrier, an obstacle.
These steel sculptures and this enclosure, are they somehow a reflection
about the relation with our own body?
The restriction of movements and
changing the way we position ourselves in the society is something common in
these two last collections and in most of my work. It’s not really about the
way we communicate, but more about the way we move, the space we need and the
space others have to move around us.
What do you expect for the future?
My expectation is to create my own
high jewellery brand within three years. There are so many sketches and so many
ideas that it would be a waste not to use them.
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