Thursday, April 03, 2014

Portugal Fashion | Concurso Bloom: João Rôla

João Rôla nasceu em 1988 e licenciou-se em Design de Moda pela ESAD em 2011. Segundo classificado no Concurso Bloom, João é um dos designers que vai integrar a plataforma do Portugal Fashion destinada aos jovens criadores.

Como é que te sentes por teres ficado em segundo lugar e seres um dos vencedores do concurso? 
É maravilhoso! Nem que fosse em terceiro ou em quarto... É muito bom! Já ter chegado à fase do desfile foi muito bom. Ter conseguido este prémio é maravilhoso. 

Como é que surge a moda na tua vida? 
É engraçado porque a mudança foi muito repentina... Eu estava muito ligado às áreas performativas, à dança, e a moda surgiu um bocado do nada, embora sempre tenha havido esse vínculo...
Quando era miúdo, lembrava-me de certos eventos pelo que as pessoas tinham vestido e não pelo evento em si. Relacionava muito datas e eventos ao que eu vestia e ao que as outras pessoas vestiam. Ainda me candidatei à Escola Superior de Dança, mas desisti porque senti que não era por ali que queria ir. 

Depois do curso na ESAD, estiveste a trabalhar com a Maria Gambina e com a Lidija Kolovrat. Qual foi o maior ponto de aprendizagem? 
Acho que é a questão da experimentação. Num atelier, não há barreiras, podes fazer o que quiseres. Ao mesmo tempo, tens que te conter e respeitar a identidade daquela pessoa, embora possas intervir e criar. É aí que surge a parte da experimentação... A parte interessante de atelier para mim é essa, a experimentação. Na indústria é totalmente diferente... 

Como foi passar pela Salsa? Estiveste lá cerca de dois anos... 
Na Salsa tinha que lidar com vários mercados e fazer produtos específicos para esses mercados. É preciso reportar a uma série pessoas: ao gestor de compras, ao gestor de produto e até mesmo ao Marketing. O produto começa no designer e ele tem que acompanhá-lo até ao fim, mesmo quando já está em loja. 

Quais foram os pontos mais positivos dessa passagem pela indústria? 
A indústria é muito imediata. Tens seis meses para criar uma colecção que terá seis meses de vida dentro de uma loja e depois pode ser destruída... Tens é que lidar com outros factores. Tens que lidar com a gestão de materiais, com preços, com o público-alvo... É preciso saber como é que vai funcionar em loja, o impacto visual que tem...
A parte mais importante é mesmo a auto-gestão do designer enquanto está a criar o produto porque sabe que tem uma série de limitações. Isso é um desafio brutal para qualquer designer, para qualquer criativo. 

E de que forma é que passar por essas duas realidades influenciou a forma como tu crias actualmente? 
Eu olho para a minha colecção de final de curso e para a colecção que apresentei agora no Bloom e não têm nada a ver. Isso é bom porque passei por um conjunto de experiências que me foram influenciando. Mesmo ao nível de construção... é uma coisa que fui adquirindo, ou seja, pensar em como é que posso modelar enquanto estou a desenhar.
Outra vantagem foi a perspectiva comercial. Eu quando crio uma pessoa quero que elas funcionem comercialmente. Isso foi sem dúvida a melhor parte de trabalhar na indústria. 

A indústria portuguesa é reconhecida pela qualidade com que produz e os designers portugueses têm cada vez mais sucesso internacional... O que é que falta à moda portuguesa para dar o salto? 
Faltam investidores. Faltam mais investidores que acreditem no nosso trabalho e que apostem em nós, que nos patrocinem ou que nos financiem. O que quer que seja... O dinheiro, em geral, é um problema. É preciso que nos dêem oportunidade de mostrarmos o nosso trabalho, de o país enriquecer com ele e de se tornar cada vez mais uma potência ao nível do têxtil e do vestuário. 

Não é esse um dos problemas, ou seja, Portugal é uma potência do vestuário em termos de produção mas não tanto do design...? 
Lá está. Por isso é que a barreira entre os designers e a indústria tem que ser quebrada de uma vez por todas porque só nos está a prejudicar, tanto aos criadores como à indústria.
Felizmente começa a haver quem percebe isso, porque houve pessoas que foram abrindo caminho, como é o caso do Ricardo Andrez. Começa a provar-se que é possível e isso é muito importante, muito importante mesmo, tanto para nós como para a geração que vem a seguir e ainda está na fase de formação. Eles precisam desse impulso! 

Quais é que são as principais dificuldades que um jovem designer enfrenta? 
Nós temos imensas dificuldades em conseguir chegar a fornecedores, a empresas que nos confeccionem as peças. Acho que tem que deixar de haver esse preconceito... Nós somos jovens, mas temos mais-valias que são importantes. As empresas deviam abrir-nos as portas porque nós somos o futuro e podiam ajudar-nos porque têm os meios para isso... 

Sentes que isso acontece apenas em relação aos jovens designers?

Há esta ideia geral de que a parte de atelier e a parte de indústria não conseguem conviver... Isso está errado. As duas vertentes são perfeitamente coabitáveis e têm que coexistir. 

O que te levou a participar no concurso? 
A vontade de participar no concurso surgiu do facto de eu me sentir um pouco enjaulado a nível criativo. Tinha necessidade de me libertar e de não estar limitado a uma marca para a qual estava a trabalhar. Para mim, é muito importante trabalhar o meu próprio legado. 

O que esperas com a entrada na plataforma Bloom? 
O passo seguinte é sedimentar a marca João Rôla e a internacionalização.
Eu estou numa fase de transição na minha vida e é precisamente isso que quero fazer: adaptar-me a esta nova fase, a ter uma colecção maior para fazer. Quero continuar com o trabalho noutra marca, numa empresa, mas quero dedicar-me à minha marca porque isso é o mais importante neste momento. 

Sentes-te preparado para enfrentar esse desafio? 
Sinto, sinto. Sinto já há muito tempo. Isto veio mesmo na altura certa!

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João Rôla was born in 1988 and graduated in Fashion Design in 2011 from ESAD. Second placed in the Bloom Contest, João is one of the designers that will be part of Portugal Fashion’s platform for young creatives.

How do you feel now that you got the second place and are one of the winners of the contest? 
It’s wonderful! Even if I had been the third or the fourth… It’s really good! Just the fact that I got to show my collection on the runway was really good. This prize is wonderful. 

How did you become interested in fashion? 
It’s funny because it was a sudden change… I was deeply connected to dance, and fashion came a bit out of the blue. However, I feel it has always been a part of me.
When I was a kid, I would remember events because of what people were dressing, not because of the event itself. I would associate dates and events to what I was wearing or to what other people were wearing. I did apply to a dance school, but I gave up because I felt that was not the way I wanted to go. 

After graduating, you worked with two Portuguese fashion designers, Maria Gambina and Lidija Kolovrat. What did you learn from those experiences? 
I think it was all about experimentation. There are no barriers at an atelier, you can do whatever you want. At the same time, you have to control yourself and respect the identity of that designer, even though you have the freedom to intervene and create. That’s the interesting part of working at an atelier, the experimentation. It’s totally different when you work for a company… 

How was it to work for Salsa? You worked there for almost two years...
At Salsa I had to deal with different markets and create different products for specific markets. I needed to report to a purchasing manager, a product manager, to the Marketing department… The product comes to live with the designer and we have to follow its lifecycle all the way till the end, even when it’s in stores. 

What was the most positive aspect of that experience? 
Everything there is very immediate. You have six months to create a collection that will have a lifespan of six months. Then it can end up being destroyed… There are other factors to deal with, though. You need to know how it will do in stores, its visual impact…
The most important part really is the designer’s self-management when creating the product because there are a number of constraints. That is a huge challenge for any designer, for any creative. 

How did those two realities affect the way you create nowadays? 
I look back at my graduation collection and to the collection I presented now and they have nothing to do with each other. That is good because I’ve been through a set of experiences that influenced me. Even as far as construction is concerned… I learned a lot and now I already think about how I will make the pattern when I am sketching.
Another advantage was the possibility to get in touch with the commercial side of fashion. When I create a garment, I want it to succeed commercially. That was definitely the best part. 

Portuguese manufacturers are recognized by their quality, whereas Portuguese designers achieve more and more international success. What’s missing so that Portugal is seen as a force to be reckoned with? 
Investors. That’s what’s missing… We’re missing investors who believe in our work, that support us, finance us or sponsor us. Whatever it is… Money, in general, is a problem. We need to be given the opportunity to show out work, the country needs to be given the opportunity to benefit from it and to be a textile powerhouse. 

Isn’t that one of the problems, the fact that Portugal is seen as a textile powerhouse in terms of production but not in terms of design? 
There you go! That’s why we need to break those barriers between manufacturers and designers once and for all because it’s only damaging both the industry and designers.
Fortunately, some people start to understand it because some designers, like Ricardo Andrez, paved the way. They are starting to prove that it is possible to be successful and that is very important for us and for the ones who are still studying. They need that! 

What are the main challenges for a young designer? 
It’s extremely difficult for us to get in touch with suppliers and manufacturers. We should end this misconception… We’re young but we can bring a lot to the table. Companies should let us contribute and work with them because we are the future. The have the means to help us and they should do it. 

Do you feel it only happens with young designers? 
There’s this idea that an atelier and manufacturers can’t live together… I think it’s wrong. They can live together and they should coexist. 

Why did you decide to participate in the contest? 
I felt a bit trapped creatively. I felt the need to free my creativity instead of being limited to designing for another company. For me, it’s really important to work on my own legacy. 

What do you expect now that you will be presenting during Portugal Fashion? 
The next step is to develop the brand João Rôla and to internationalize it. I’m into a transitional stage of my life and that’s what I want to focus on: adapt to this new stage, to the need of creating a larger collection. I want to work for a company but also dedicate myself to my own brand because that’s very important right now. 

Do you feel ready?
I do. I’ve been feeling ready for a long time. This happened in the right moment!